Investimento é compensado em 3 anos. Geração dessa fonte energética cresceu 200% em 2017 no país
Se é verdade que é preciso ver o lado bom das coisas ruins, as elevadas tarifas de energia pagas no Estado do Rio — com um dos percentuais de ICMS mais altos do país — vêm tornando cada vez mais atraentes os investimentos na instalação de sistemas de geração de energia solar pelos próprios consumidores.
De acordo com levantamento feito pelo grupo Comerc Energia, a cidade do Rio é hoje a quarta capital mais vantajosa para projetos de geração de energia solar por consumidores de baixa tensão, como pequenos negócios, condomínios, hospitais, shopping centers e residências. Graças também à alta incidência de radiação solar, no Rio, o retorno desse investimento — que sai a, no mínimo, R$ 14 mil — é de 3,3 anos, só superado por Teresina, no Piauí; Belém, no Pará; e Manaus, no Amazonas, onde o tempo varia de 3,1 a 3,2 anos.
Já no caso das unidades consumidoras atendidas em alta tensão, o Estado do Rio é a segunda capital mais favorável para investimentos em geração solar, onde o retorno se dá em 5,4 anos. Em primeiro lugar, está Manaus, com 4,9 anos. A baixa tensão atende a consumidores com demanda abaixo de 75 quilowatts (kW); e a alta, aqueles que utilizam 75 kW ou mais, como indústrias que são intensivas no consumo de energia.
Para Cristopher Vlavianos, presidente do Grupo Comerc Energia, com a perspectiva de as tarifas de energia continuarem aumentando, aliada à queda nos preços dos equipamentos, a geração de energia solar ganha espaço: “O consumidor está disposto a investir em um sistema solar para reduzir os custos com energia. E quanto mais caras ficam as tarifas, mais rapidamente o consumidor consegue amortizar os investimentos. No caso das empresas, há ainda a questão da sustentabilidade, em que elas buscam metas de redução das emissões. O que já acontece no exterior está começando a ocorrer aqui”.
O levantamento da Comerc considerou os últimos reajustes, em janeiro, nas tarifas de eletricidade das distribuidoras. Para elaborar o ranking, são levados em conta a incidência de radiação solar de cada região, a tarifa de energia e o ICMS cobrado pelos estados. O Rio, além da tarifa alta, tem um ICMS de 32%, um dos mais elevados entre os estados da federação.
Segundo a Comerc, em média, o retorno dos investimentos em energia solar pelos consumidores de baixa tensão nas capitais se dá entre 3,1 anos e 7,6 anos, enquanto os dos de alta tensão levam entre 4,9 anos e 12,3 anos. Macapá, no Amapá, é a capital onde os consumidores levam mais tempo para ter retorno do investimento, levando 7,6 anos, no caso de baixa tensão, e 12,3 anos, nos de alta tensão.
Mas o aumento da geração de energia solar não acontece apenas em sistemas de geração pelo próprio consumidor (geração distribuída), mas em projetos de usinas de grande porte. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), estão em operação no país 82 usinas de energia solar com capacidade instalada total de 965.325 quilowatts (kW), que representam 0,61% da matriz energética do país. Estão em construção outras 27, que adicionarão uma capacidade instalada de 754.052 kW, além de 40 ainda não iniciadas, que terão capacidade total prevista de 965.291 kW.
Rodrigo Sauaia, da Absolar, comenta que a suspensão dos leilões de projetos de geração solar pelo governo federal em 2015, tendo só realizado um novo certame no fim do ano passado, gerou um período sem encomendas para os fabricantes de equipamentos solares. Não há, por exemplo, nenhum projeto novo para entrar em operação em 2019 e 2020. Os projetos do leilão realizado em dezembro do ano passado estão previstos só para 2021.
“É um desafio para as empresas, que podem fechar suas portas, demitir pessoal nos próximos anos. Apesar do crescimento da geração distribuída (pelos consumidores), a parcela de materiais e equipamentos é muito pequena, representa apenas 15% do mercado de energia solar”, destacou Sauaia.
Mesmo assim, com a entrada em operação de projetos de geração, os preços vêm caindo nos últimos anos. A tarifa da energia solar no leilão realizado em 2017 foi de R$ 145,85 o MW, contra R$ 297 o MW em 2015. “O ideal é que o governo tenha um calendário de leilões de geração solar, com uma contratação continuada de projetos para que o setor possa se planejar”, comentou Sauaia.
O presidente da Comerc lembrou que a geração de energia solar nas usinas de grande porte também vem crescendo, favorecendo a redução de custos dos equipamentos em geral. No último leilão de oferta de energia para 2021 realizado pelo governo federal, a fonte solar dominou o certame.